quinta-feira, 3 de junho de 2021

NE.: POST 1 - Pirâmide das evidências



Muitos já se depararam com a imagem acima intitulada “Pirâmide das evidências”, muito comum em livros de metodologia da pesquisa e epidemiologia. Nessa pirâmide, os tipos de estudo/delineamento de pesquisa estão apresentados de forma hierárquica, em que na parte mais inferior está localizada as opiniões de especialistas e na parte superior as revisões sistemáticas como metanálise.

Na mesma imagem, podemos perceber também, que estudos experimentais com seres humanos estão acima de estudos observacionais. Quanto mais superior está o tipo de estudo de pesquisa, menos susceptível a vieses a evidência estará.

Porém devemos ter cuidado ao interpretar essa pirâmide!

Por exemplo, nos livros de epidemiologia está disponível uma tabela que aponta os tipos de estudo mais comuns na área da saúde, seus objetivos, assim como suas limitações. Dessa forma, percebe-se que para cada objetivo de hipótese a ser testada, existe um tipo de delineamento de pesquisa que auxilie no teste dessa hipótese.

Assim, caso eu queira verificar a prevalência de algo, o melhor tipo de estudo é o transversal. Se o objetivo for verificar se uma exposição é um fator de risco para uma determinada patologia, um estudo do tipo caso - controle é interessante. Na ocorrência de uma doença rara, a compreensão do fenômeno seria auxiliada por um estudo de relato de caso. Numa situação onde pesquisadores querem verificar a eficácia de uma intervenção, o melhor tipo de estudo a ser conduzido seria um ensaio clínico randomizado.

Diante do exposto, você já consegue verificar que ao falar de tipos de estudo não podemos incorrer no erro de coloca-los numa determinada hierarquia geral para todas as evidências. Cada evidência deve ser cuidadosamente analisada, respeitando a hipótese de cada pesquisa. A forma como essa pirâmide das evidências apresenta os tipos de estudos quanto aos seus vieses (do inglês, bias) só faz sentido caso a hipótese a ser testada queira verificar a eficácia de uma intervenção. 

Como já dito anteriormente, para testar intervenções, o ensaio clínico é o melhor tipo de delineamento. Revisões sistemáticas com ou sem metanálise podem ser feitas para resumir o que os ensaios clínicos de boa qualidade metodológica, tem a dizer sobre um determinado tema. Porém, para uma revisão sistemática ser considerada uma boa evidência, essa precisa ser metodologicamente bem construída. Isso se dá também para os outros tipos de delineamento.

Para que os estudos possam ser considerados boas evidências, esses precisam ser metodologicamente bem construídos. Para um mesmo tema, um estudo observacional do tipo coorte, bem feito, tem mais valor do que um ensaio clinico mal conduzido, logicamente, deve-se ter em mente até onde os estudos observacionais podem ir em termos de conclusão e para o que ele foi planejado.

Por fim, a interpretação dessa essa pirâmide precisa ser feita de forma racional, devemos analisar primeiramente a hipótese a ser testada e o melhor tipo de delineamento que ajude a responder essa pergunta. Em resumo, essa pirâmide só faz sentido quando estamos diante de estudos bem conduzidos e quando a hipótese de pesquisa quer verificar a eficácia do tratamento.


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